“A importância do Brincar e ser Ativo nos primeiros anos de vida ” – Professor Carlos Neto – Equipa Local de Intervenção Precoce de Castelo Branco.
“O corpo está esquecido na escola. Na escola não entra só o cérebro, entra o corpo todo.”
in Carlos Neto, “ Libertem as crianças”
A realização desta palestra, no dia 21 de abril, insere-se no Plano Anual de Atividades do Agrupamento de Escolas Afonso de Paiva, tendo sido proposta pelos elementos da Equipa de Intervenção Precoce de Castelo Branco, Idanha-a-Nova e Vila Velha de Ródão.
O Professor Doutor Carlos Neto deslocou-se a Castelo Branco para partilhar com pais, educadores e técnicos os seus saberes e experiências. A ação decorreu no Instituto Português do Desporto e da Juventude e contou com a participação de cerca de uma centena de pessoas.
Professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, com vasta experiência na investigação e formação de professores, defende a emergência da atividade motora e reforça a importância de devolver a brincadeira às crianças como alternativa ao atual modelo que tem promovido o “analfabetismo motor”.
Brincar livre ao ar livre foi o mote de toda a palestra. Afirmou que, em Portugal, a escola e o seu modelo de aprendizagem estão ultrapassados. Propõe um modelo de aprendizagem multidisciplinar em que será necessário que os educadores/professores constituam equipas e definam projetos educativos adequados às realidades locais, em articulação com as autarquias, comunidades, crianças e famílias.
No cerne de toda a comunicação, coloca a importância do desenvolvimento motor: equilibrar, perseguir e ser perseguido, lutar, conhecer o corpo, conhecer limites e superar-se. Brincar significa desenvolver a capacidade de adaptação, a sobrevivência, a imaginação, o confronto no espaço físico e nas relações sociais.
Carlos Neto, cujo entusiasmo contagiou os presentes, colocou ênfase na natureza, na rua e nos parques, enquanto espaços lúdicos, em detrimento do encerramento das crianças em casa ou na escola, em atividades sedentárias como são o uso excessivo das tecnologias digitais ou a aula expositiva e desinteressante. “Temos de fazer um trabalho conjunto com os diretores, autarquias, pais, Ministério da Educação, para levarmos as crianças para a rua.”
O nosso estimado preletor sugeriu que se comece pela alteração dos espaços exteriores das escolas e dos jardins de infância, de modo a que estes propiciem oportunidades para o desenvolvimento motor, permitindo que a criança se desafie, caindo, trepando, lutando, jogando, apreendendo a complexidade do seu corpo e do mundo que a rodeia de forma dinâmica e participativa.
Durante a manhã, Carlos Neto visitou o Parque do Barrocal e ficou maravilhado com o local, considerando que as crianças das escolas deveriam aprender em espaços como este. No entanto, ficou desgostoso, porque apenas encontrou três crianças na sua imensidão. “Onde estão afinal as nossas crianças? Confinadas nas escolas! “
Alertou para a urgência de brincar e ser ativo, para a importância do contacto relacional para promover crianças saudáveis e felizes:” Não viemos ao mundo para estarmos sentados numa cadeira a aprender de forma passiva.”
O seu discurso, eloquente e entusiasmante, fundamentado cientificamente, apresentou estudos e propostas, projetos e modelos de sucesso experimentados noutros países e, também, em Portugal.
Em suma, a palestra terminou, mas não deixou ninguém indiferente. Cada um de nós leva agora o sonho de transformar e melhorar as práticas educativas, no sentido de promover crianças ativas e capazes de desenvolver projetos, de ajudar a desenvolver competências nas crianças para que estas possam resolver problemas complexos e sejam pequenos pesquisadores que aprendem, ativamente, com todo o corpo – cérebro, emoções, sentimentos, linguagem, mãos e pés, olhos e ouvidos -, numa descoberta permanente do meio envolvente.
Foi uma tarde cativante que teve o dom de “agitar” mentes e ser o mote para a mudança que tem de acontecer em cada um de nós. Mudando algo na nossa esfera de ação, estaremos a mudar o mundo, pouco a pouco, como disse uma das educadoras presentes.
Ficou a promessa de nos reencontrarmos com o Professor Carlos Neto – é que esta experiência soube-nos a pouco! Dono de uma generosidade inigualável, prometeu voltar, em breve. Esperá-lo-emos impacientemente.